Resenha | Santo de casa

Um pai de família morreu. Seus três filhos, que já viviam longe de casa, retornam para o funeral. Alan, Alex e Betina... Filhos de Rute e Zé Maria. O pai foi morto por ataque de onça. Elas são comuns na pequena cidade de interior, mas nunca haviam atacado ninguém dessa maneira. Será que Zé Maria merecia o fim trágico que teve?

Ao longo de uma narrativa diferente da padrão que estamos acostumados, o leitor vai entendendo porque as relações dessa família são complexas. Nem todo mundo está sentindo o luto da mesma forma. Nem todo mundo sente tanto a perda deste homem. Porque na rua ele até era um santo, mas vocês conhecem o ditado: "santo de casa não faz milagre"? É por aí...

A escrita de Volp causa um pequeno estranhamento nessa trama, mas de cara, vi que iria me agradar. Já na primeira página senti que a leitura iria me tocar de uma maneira ímpar e não estava enganada. Fui arrebatada pela história de uma família negra, com irmãos tão diferentes e com uma história tão dolorosa. É bem fácil entender porque a perda do patriarca foi sentida por eles de maneiras tão contraditórias. Um homem aparentemente bom, mas que dentro de casa deixou feridas abertas e traumas profundos. 

Não houve como não sentir pelos irmãos e pela Rute que foi uma fortaleza. Uma mulher que, acredito, é retrato de tantas mulheres nesse país. Ela aguentou muitas coisas calada. Engoliu muito choro, mas sempre tentou proteger os filhos. Dona Rute é uma das muitas mulheres brasileiras que sofrem abusos e permanecem, acreditando ser a melhor maneira de agir. Os irmãos foram atrás dos sonhos, foram em busca de quem eram, mas cada um carrega seus dilemas e seus segredos. 

Meu segundo contato com o autor foi mil vezes melhor do que o primeiro. Li "O beijo do rio" que infelizmente, não gostei. Porém ler "Santo de casa" foi um bálsamo. Foi um verdadeiro deleite. Que obra marcante. E o final, ao meu ver, foi certeiro. Rute, é isso. 

1 Comentarios

  1. Oi, Roberta!
    Caramba, fiquei bem curiosa com esse livro, viu? 3 anos atrás participei de um romance coletivo sobre 5 irmãs que também perdiam o pai e cada uma sentia de forma diferente, então é uma narrativa que claramente me interessa em outras histórias, ver como os caminhos de vida levam pessoas que supostamente teriam respostas iguais a um mesmo acontecimento a serem tão diferentes... A trama da mãe como pano de fundo, então, parece deixar mais intenso ainda!

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