Resenha | A filha perdida

Meu primeiro contato com Elena Ferrante foi com A filha perdida, um livro que mostra a maternidade de uma forma bastante crua.

Leda é uma viajante solo pelo litoral da costa italiana. Nesta viagem, ela acaba prestando muita atenção em uma mãe e sua filha que também estão lá. Ao primeiro olhar, a relação parece perfeita, mas Leda começa a perceber que não é bem assim... E quando ela decide roubar a boneca da garotinha, ela me parece, na verdade, querer encontrar a si mesma. 

Ao perceber as imperfeições em outras relações pelo olhar de Leda, a autora faz com que o leitor reflita sobre como a grama do vizinho sempre parece mais verde, mas que se a gente olhar com atenção, irá perceber que nem tudo é tão verde assim. Leda entende que a maternidade que observa também não é perfeita, assim como a sua com as filhas. 

Para além das relações maternas, o livro também mostra as questões de julgamento que sofremos e que fazemos. As pressões danosas que a sociedade nos impõe, enquanto mulheres. A busca de Leda por uma reconciliação consigo mesma. A busca de um sentido para as relações fracassadas com sua própria mãe e com suas filhas. Leda me parecia querer encontrar a sua identidade. 

Como mãe, eu me identifiquei com muitas passagens dessa história. Não, não abandonei meu filho como a personagem, mas me identifiquei com algumas das questões que a levaram a tomar a atitude que tomou. Tantas vezes esquecemos de quem somos e do que gostamos quando o ser mãe toma o espaço. A maternidade consome, principalmente nos primeiros anos, e esse é um livro que mostra isso de uma maneira crua e que pode para muitos ser até mesmo desconfortável. Muitos acharão a protagonista egoísta, enquanto, acredito que só buscava a si. 

E eu adoro esse tipo de livro, sabe? Amar os filhos é diferente de amar todas as obrigações e pressões que a maternidade nos traz. Somos sempre mais cobradas e mais julgadas em qualquer situação que tenha a ver com filhos. Elena Ferrante com sua escrita afiada, que bate com força no leitor mesmo com um livro curto, me deixou encantada. Um livro de emoções sem grandes acontecimentos. É um livro de tantos "dentros", dentro de Leda, dentro de Ferrante e chega, como uma bala, dentro do leitor. 

Não acredito que seja uma trama que vai encantar todos que o lerem. Um trama que carrega simbolismos e questões profundas, que talvez, não sejam tão compreendidas por alguns leitores. 

Me encantei com Elena Ferrante e com a temática da história. 

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