Considerado um marco da escrita feminina no Brasil, o livro conta a história real de Carolina, moradora da favela Canindé (SP) e amante das palavras. Ela estudou apenas dois anos na vida, mas já é o suficiente para ela amar ler antes de dormir e escrever o seu diário sempre que lhe sobra tempo. Em seu diário ela narra o dia a dia de sobrevivência precária.
Li um pouco. Não sei dormir sem ler. Gosto de manusear um livro. O livro é a melhor invenção do homem.
Fome, isso domina os dias de Carolina e seus filhos. Para sobreviver ela cata papéis, quando há, e até mesmo comida do lixo, necessita pegar. Ler esse livro é sofrer. E o mais duro de tudo isso, é lembrar que não se trata de ficção, e que apesar do diário dela retratar o período de 1955 a 1960, até hoje muitas famílias vivem em situação de extrema pobreza no país.
O livro é doloroso, sobretudo, porque em toda leitura me pus no lugar dela. Li como mãe e meu coração doeu toda vez que ela não teve comida para dar aos pequenos. E ao mesmo tempo, o livro me deu esperança, algo que a Carolina não faltou.
Mas, se os pobres do Brasil resolver suicidar-se porque estão passando fome, não ficaria nenhum vivo.
A escrita é marcada pela oralidade. Carolina, mesmo com seus erros gramaticais e gírias, marca a sua escrita pelo sentimento que transborda. E pela sua lucidez crítica, encantou o jornalista Audálio Dantas, em uma visita dela à favela. A partir desse momento, Carolina começou a ter os seus escritos reconhecidos.
Esse é um livro que recomendo a todo mundo. Ler o diário de Carolina, nos faz refletir sobre a sociedade, sobre a política e sobre nossa própria vida, muitas vezes tão privilegiada e que a gente nem se dá conta disso. Carolina me ensinou a dar ainda mais valor às pequenas coisas que temos na vida e que conquistamos. Nenhuma conquista é pequena.
Autora: Carolina Maria de Jesus
Editora: Francisco Alves
Ano da edição: 1993
Páginas: 173
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