Três gerações de mulheres de uma mesma família. Não sabemos seus nomes, mas sabemos que são avó, mãe e filha. Percebemos que essa mãe possui suas questões conflituosas com a maternidade que lhe aconteceu e com as demandas que um bebê lhe acarreta. É difícil ser mãe quando se tem de abrir mão de si mesma.
Essa avó nunca contou à filha quem é seu pai e vemos o quanto isso mina a relação entre as duas. Elas não se dão muito bem. Algo de quebrado paira entre as três relações, as três gerações.
Vanessa Passos traz numa história curta, uma história marcante. Uma história de mulheres com suas dores particulares, mas dores também compartidas. Dores não só destas personagens, mas que fazem parte da vida de tantas mullheres brasileiras. Aquelas violências que vemos em nossos telejornais diários e que são, infelizmente, tão comuns.
A narrativa é em capítulos curtos, numa linguagem simples e crua. Ao meu ver, a linguagem ordinária dá o tom perfeito, sensível e crível, a esta história de mulheres sem nomes. A falta dos nomes que exala o silenciamento feminino e preto na nossa sociedade. Personagens sem nomes que poderiam ser a nossa avó, a nossa mãe ou nós mesmas. É fácil reconhecer alguma mulher da nossa realidade nessas mulheres.
Uma história sobre racismo, sobre a violência contra a mulher e sobre maternidade. Assuntos que facilmente mexem com a gente, principalmente, sendo mulheres. Algumas cenas me doeram o coração em um lugar bem fundo. Nascer mulher nos larga em desvantagem. Nascer mulher nos faz alvos. Nascer mulher nos faz crescer e conviver com o medo, simplesmente, por ser o que somos. Nenhuma de nós está a salvo.
A leitura pode causar gatilhos. Há cenas descritivas de abusos e violências. Entretanto, se você se sentir em condições de encarar, meu conselho é leia.

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