E se você só pudesse dizer 100 palavras durante o dia? Essa é a realidade das mulheres nesta distopia. Um governo de extrema-direita, ultraconservador tomou o poder dos Estados Unidos e agora, as mulheres vivem essa realidade. Se ultrapassar a cota diária, as mulheres levam choques. Além da limitação das palavras, não tem mais os direitos que tinham. Perderam seus trabalhos, seu dinheiro foi passado aos cuidados dos maridos, pais, irmãos. As decisões são dos homens.
Eles não vão nos matar pelo mesmo motivo que não autorizam abortos. Nós nos transformamos em males necessários, objetos para serem fodidos e não ouvidos.
Tudo começou aos poucos até chegar a essas condições, e é incrível a semelhança de algumas situações com a realidade, o que torna o livro angustiante em muitos momentos, sobretudo para nós, mulheres. Conhecemos Jean McClellan, ela é Dra. em neurociência voltada para neurolinguística, mas claro, nos dias atuais vive para a família. Família essa composta por ela, o marido e quatro filhos, três meninos e uma menina, Sonia. Jean e Sonia utilizam pulseiras, contadores em seus pulsos e cada palavra dita é somada.
Porém, o governo vai precisar dos estudos e da mente afiada da Dra. McClellan e, para isso, ela acaba recebendo a liberdade de durante o tempo em que estiver trabalhando para o presidente, não usar mais seu contador. Mas claro, há algo por trás para que o governo acabe recorrendo a uma mulher e isso, faz com que a gente queira muito entender o que irá acontecer.
A única coisa necessária para o triunfo do mal é que os homens bons não façam nada.
A narrativa é muito fluída e os capítulos curtos deixam a leitura ainda mais dinâmica. Queremos saber que rumos essa história irá levar e o que o governo está tentando fazer. Me grudei na trama e não queria soltar. Uma leitura que em muitos momentos me deixou sufocada. É um livro muito reflexivo.
Porém, alguns pontos do livro não me agradaram tanto. Os personagens não me cativaram tanto e a protagonista, muitas vezes, teve atitudes que não compreendi. Da metade para o final senti que a trama meio que se perdeu e muitas questões ficaram em aberto, e o final, parece que foi escrito com pressa. Ouvi que terá uma continuação, mas mesmo assim, acho que muitas questões importantes para a história poderiam ter sido mais exploradas.
A premissa e o começo dele são muito empolgantes, mas uma pena que não teve a mesma qualidade em desenvolvimento. Apesar das ressalvas foi um livro intenso e que me fez refletir. Ele traz questões acerca do feminismo (embora eu não tenha concordado com todas as abordagens que ele traz sobre o tema), sobre a sexualidade, mercado de trabalho, extremismo religioso, sobre política e como lutar pelos nossos direitos é importante, mesmo que naquele momento pareça coisa pouca. Como o livro diz: sempre haverá resistência. A crítica que a obra nos traz sobre a sociedade é ótima, e recomendo a leitura.
Ficha Técnica
Autora: Christina Dalcher
Editora: Arqueiro
Ano: 2018
Páginas: 320
NOTA: 4,0 / 5 🌟
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