Resenha - Vá, coloque um vigia

Começo dizendo que o primeiro volume, O sol é para todos, se tornou um dos meus livros favoritos da vida e ler Vá, coloque um vigia e poder reencontrar personagens que tanto amei, foi lindo. Ao contrário do primeiro livro, aonde acompanhamos a infância de Scout, a Jean Louise, neste aqui, o tempo passou e a encontramos uma mulher.


Ficha técnica
Autora: Harper Lee
Ano: 2015
Editora: José Olympio
Páginas: 252
Muitas coisas mudaram, mas muitas continuam as mesmas. O livro é independente de O sol é para todos, pode ser lido sem que o leitor já tenha conhecido o primeiro, porque se trata de uma nova história. Inclusive, este exemplar, foi escrito primeiro, mas Harper só aceitou publicar em 2015. Este foi o primeiro esboço do aclamado sucesso da autora.

Jean Louise que agora vive na cidade de Nova York, chega à sua cidade natal, Maycomb, para passar as férias com a sua família. Passado em meados de 1950, em meio às discussões sobre segregação racial, a já adulta, Scout, precisa lidar com pessoas que ela admira, tomando atitudes às quais ela não esperava. Scout que sempre foi uma garota muito decidida quanto as coisas que acredita, se depara com a situação de precisar rever o seu olhar sobre as pessoas ao seu redor, sua família e amigos.

— Você é daltônica, Jean Louise. Sempre foi e sempre será. As únicas diferenças que vê entre as pessoas são a aparência, a inteligência, a personalidade e coisas assim. Nunca encarou as pessoas de acordo com sua raça, e agora que a raça é o assunto inflamável do dia, você ainda é incapaz de pensar em termos de raça. Você vê apenas pessoas.

O livro mostra a mensagem de que às vezes idolatramos tanto uma pessoa e não nos damos conta das muitas nuances que a formam. Nem todo mundo é só aquilo que nós podemos ver. Jean Louise passa por um amadurecimento. É o fim de ilusões criadas na infância. É crescimento. Perceber que as pessoas que sempre conhecemos e achávamos perfeitas, nem sempre o são.

Mais uma vez o racismo impera na escrita de Harper Lee, mais uma vez um livro escrito há tantas décadas mostra que o tema ainda é atual. Temas que nos fazem refletir.

(...) A ilha de cada homem, Jean Louise, o vigia de cada um é sua própria consciência. Não existe essa coisa de consciência coletiva.
Apesar de ter gostado do livro, a narrativa não foi totalmente do meu agrado. Senti um pouco de enrolação e senti uma falta enorme de personagens que não pude reencontrar. Nem de longe esse livro é tão sensacional como O sol é para todos, mas de maneira alguma é ruim, como vi em algumas resenhas por aí.

O caso é: não é uma continuação. E talvez, Harper Lee, tenha aceitado o publicar para dar algo mais ao fãs de sua obra, porque ela mesma já dizia que um livro só bastava. Se você é fã de O sol é para todos, por favor, não vá com muitas expectativas. O livro é bom, mas não chega aos pés da primeira obra lançada.

(...) O preconceito, uma palavra suja, e a fé, uma palavra sagrada, têm algo em comum: os dois começam onde termina a razão.
Vá, coloque um vigia nos fala de que nossos heróis também têm defeitos e que isso não os faz menores. Todos nós carregamos nossas coisas boas e àquelas que nem tanto. Mostra que nosso olhar de criança se modifica e que precisamos aceitar muitas outras coisas. Cada um é vigia da sua própria consciência.


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