[Resenha] As horas vermelhas


Acredito que posso chamar 'As horas vermelhas' de uma distopia feminista. Neste livro vamos acompanhar mulheres que passam por  momentos e situações diferentes da vida, numa legislação nova, em que as mulheres perderam muito de sua liberdade de decisões. 

O livro se passa nos EUA e as leis estão em mudança. Antes uma mulher que não queria seguir uma gestação, poderia abordar, mas hoje elas estão novamente impedidas. Se uma mulher sofre um aborto espontâneo, ela é obrigada pela lei a pagar o funeral ao feto. Mulheres solteiras que desejam adotar, em breve não terão mais essa possibilidade. 

Nesse cenário, acompanhamos a história de 5 mulheres, cada uma com um tipo de vida diferente mas que ao longo da trama terão as suas vidas entrelaçadas em algumas ocasiões. As mulheres se dividem em: a Biógrafa, a Esposa, a Filha, a Reparado e Eivor (exploradora do século XIX, que está tendo sua história escrita por uma das personagens).

A Biógrafa, Ro,  é uma mulher de 42 anos, solteira que sonha em ter um filho. É professora e escreve a história de Eivor, a exploradora. A esposa, Susan, é mãe de dois filhos e abandonou a sua possível carreira para se dedicar ao casamento e filhos. A reparadora, Gin, vive na floresta e é uma curandeira. A filha, Mattie, é uma jovem de 15 anos que engravida e não sabe o que fazer. 

Mas quem se importa com a aparência da garota se ela está feliz?O mundo vai se importar.

Essas vidas distintas passam por enormes questões e enquanto lia o livro, tive uma conexão grande com cada uma dessas mulheres. Apesar de ser uma distopia, as situações vividas ali são muito frequentes em nossa sociedade e trazem uma reflexão sobre o papel da mulher. E nos traz a pergunta que acompanha o título à mente: para que servem as mulheres?

Medidas impostas por esse governo sobre o corpo e a vida de mulheres são vistas por nós, infelizmente em muitos lugares. Mulheres solteiras que são vistas como "encalhadas", as que querem ser mães solteiras que são vistas como se não tivessem capacidade de criar um filho sozinha, se for uma decisão dela, já que tantos "pais" abandonam os filhos e aí, ai da mulher que decida não levar essa criação adiante. 

Na personagem da Esposa que nos mostra como uma mulher pode se sentir presa dentro de um casamento por causa dos filhos, dos olhares, das consequências que sempre caem mais pesado no colo do "sexo frágil". Na Reparadora, que por não seguir uma vida "comum" é olhada como uma bruxa que causa o mal. Na Filha, que engravida (não sozinha, né?) e tem que arcar com toda a responsabilidade e consequência sem condições mentais disso.

A aceitação, a biógrafa pensa, é a habilidade de ver o que é. Mas também de ver o que é possível.

Os capítulos do livro são intercalados entre as personagens e curtos, o que deixa a leitura extremamente fluída. Situações que podem ser vistas como absurdas, mas que são de extrema relevância no momento que vivemos. Uma distopia feminista que no final nos deixa a mensagem que mesmo que enfrentemos tantos percalços e dificuldades, conseguimos resistir. 

Esse livro me surpreendeu de forma muito positiva. Leni soube colocar nessas personagens, grandes aflições que o sexo feminino sofre. Acredito que é um livro que precisa ser lido e refletido tanto pelas mulheres como pelos homens também.

Autora: Leni Zumas
Editora: Planeta 
Ano: 2018
Páginas: 336

NOTA: 5/5 🌟 + 💗



0 Comentarios

Follow Me On Instagram